Iluminar os dias, continuando a sonhar que é possível viver...

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Setubal, Portugal
Um abraço, uma palavra, um sorriso... um caminho que poderá ser muito longo. Afinal é possível.

terça-feira, 31 de julho de 2007

Mais uma estrela no céu...

... para iluminar o nosso caminho.

A minha amiga Maria João tem descanso eterno desde esta madrugada. Estava internada desde sabado, no Hospital Garcia da Orta.

Paz à sua alma, e muita coragem e muita força à familia, para que suportem esta dor o melhor que puderem.

sexta-feira, 27 de julho de 2007

Recordando o meu inicio do milénio...

A Ni andou arrumar umas gavetas em casa e encontrou uma serie de poemas que eu em tempos, fiz.

Iniciei o novo milénio com um poema num concurso da região, qualquer coisa alusivo a Sebastião da Gama. Como em tempos escrevi umas coisas no DN Jovem e no Setubalense, lá escrevi na brincadeira e fiquei muito contente quando soube que tinham sido as minhas palavras as premiadas. Foi uma boa recompensa... para o ego. Eram assim:

2001-01-01
"Bom dia"

Tudo quanto me ensinaram está agora fora de uso...
Visto as roupas do milénio passado,
Transportei os mesmos ideais, o mesmo cepticismo racional,
O mesmo rimel nas pestanas...
Num cetim verde que arrasta pelo chão.
Oiço os mesmos sons da natureza em breves sinfonias de Mozart,
Continuo a admirar o palácio de Bala e o de Alhambra
Como ideografo Edgar Poe e Areta Franklin.
Já de sultões e de vizires reza a história
Ao julgamento do kadi, com cheiro a madeira de cedro,
Nos tapetes persas e aromas de sedas no Cairo.

E continuo a achar que os filmes de Bogart estão na moda,
Continuo a cometer os mesmos erros gramaticais
E impressionada continuo a usar as mesmas tintas nas folhas secas.
E quase me sinto uma antiguidade tal Estátua da Liberdade ou Mosteiro dos Jerónimos...
Mas decerto vou continuar a tradição do sensualismo de Condillac
Neste devaneio de Teócrito.

E na mais obvia nódoa cai o pano... assim como a três pancadas de
Moliére, visto-me de safiras para apoiar este tango de Rodin.
E como antiguidade nem sempre é velharia, cá vai o sorriso para o
Novo Dia.

quarta-feira, 25 de julho de 2007

Fui dar um beijo à Maria João.

A prenda que a Maria João me deu à uns tempos atrás... os corações juntinhos simbolizam a nossa amizade...o cheiro do sabonete para perfumar os meus dias...
25 de Julho 2007

Ontem, senti todo o dia, umas dores horriveis na cabeça ( deve ser a força do cabelo a crescer,). Eram umas 20.30 mais ou menos, e telefonei à Maria João, já não falamos à uma semana, ela acabou a radioterapia à cabeça a semana passada, no Hospital do Barreiro. Tenho andado preocupada com ela, mas não estava à espera do que ouvi pela voz de uma amiga, a quem a MJ passou o telemovel, por não conseguir falar.Disse-me: o estado dela é delicado. O prognóstico é o pior. O estado em que está é quase... não ser.


Fui chamar a Ni, minha sobrinha, para que ficasse com o meu filho em casa, e fui com o meu primo Tiago buscar umas lembranças para levar ao menino de sete anos, o André, o filhote dela. E de seguida, precorri uns kms, sem já saber ao certo, onde ficava o prédio, no meio de tantos, numa povoação chamada Amora. Fui quase por intuição encaminhada à rua onde já havera estado à tempos atrás, quando a fui levar a casa, vindas do hospital de Almada. O Tiago ficou no carro, e eu subi ao oitavo piso. Tive a sorte de encontrar à porta do prédio a cunhada da MJ. Que me cumprimentou com um sorriso no meio de uma expressão tristinha. E disse-me " Isa prepara-te para o que vais ver... ". Eu sei que tinha de vir, e virei mais vezes, quer ela me chame ou não. Ela está tão medicada que também já não chama ninguém.
Entrei, ela estava na sala, pronta para comer uma sopa já fria, estendeu-me os braços - " a minha menina"...


O tempo ao pé dela, nunca é perdido, há sempre dialogo, há sempre uma piada que eu digo e ela risse, sempre um abraço, um beijo na testa. Com o olhar perdido numa aresta da casa, disse-me: " é de má qualidade o que tenho, curo de um lado aparece do outro, e agora mantenho-me por uma veia, quando ela dicidir eu vou-me." É assim... " ainda lhe respondi " há algum de boa qualidade?"...


O menino está no Norte, não sei bem onde, na casa dos avós paternos. Ele só tem sete anos...loirinho...o rosto da mãe.


Não sei que transcrever do nosso encontro, ainda não consigo descrever o que vi, o que senti, tenho receio só de pensar... ter um pensamento menos positivo.


Sai porta fora, passado uma hora e meia depois de ter entrado, depois de um beijo à amiga Tânia, ao marido e à mãe. Não consegui dizer muitas palavras, a eles não lhes consegui dar força, não consegui dizer que lamento... que nunca tinha sequer pensado que seria assim... como vai ser. Entrei no elevador sozinha, com pouca luz, não tinha mais que a 1 m2 de area. Depois de ter pressionado o botão do r/c, o elevador parou, onde lhe apeteceu. Nada mais nada menos que entre o terceiro e o quarto andar.Continuei a carregar no botão do r/c e o elevador descia, andar a andar parando sempre entre as duas portas de saida, ou melhor, na parede, sem possibilidade de saida. O botão da emergência, fazia assim uns ruidos que aquela hora da noite não iria acordar ninguem, mal se ouviam...telemovel sem carga, na mão... a luz a apagar...e eu sem conseguir me assustar ao ponto de gritar ou chorar, ou bater com os pés no chão. Fiquei simplesmente à espera de não me assustar e que o ascensor dicidisse levar-me a bom destino. Isto durou uns vinte minutos. Até que o elevador quando lhe apeteceu, levou-me até ao fim do percurso, abri a porta e sai...como quem nasce.


segunda-feira, 23 de julho de 2007

Festa de Santiago.


Em Setembro, tenho de voltar às sevilhanas. Passam uma energia boa, estes movimentos. Não são muito aconselháveis para o meu braço direito, mas vou mexer pouco os braços e mais os pés... Olé!

Não sou eu que aqui ando neste palco, mas com muita pena minha. Vi este espectaculo de luz e som, que a foto não mostra, por falta de qualidade, nas festas de Santiago, ontem em Setubal. A minha cidade do Sado e do peixe frrrito... bem hajam os senhores camarários que tiverem o brilhante empenho, (que não tiveram o ano passado), de limpar a vala que corre perto da festa, com vista à exterminação dos mosquitos. Enquanto o ano passado vim de lá cheia de hematomas e prurido, este ano só o que me deixou triste, foram as saudades de balançar o corpo ao som do flamenco.

Boas festas... que tragam forças renovadas e contentamento duplicado os que andam de férias...um grande abraço a todos.

quinta-feira, 19 de julho de 2007

Diário: 8 setembro de 2006 ( cont.)


Durante o tratamento, não se sente grande coisa, que não se suporte. Nada doi, a não ser na alma. Picam-me na mão esquerda bem perto do anelar, para me injectarem o primeiro tratamento.E disseram-me que parecia-lhes melhor iniciar o tratamento pela mão, porque se a veia não suportar ou se "rebentar", passam para uma do pulso, e só depois para uma a meio do braço. Sempre debaixo para cima, e nunca pode ser o inverso. Primeiro vem o soro, para preparar a veia... depois injecções dadas pela mesma entrada na veia, uma delas diminue as nauseas e os vomitos durante umas horas. Para além do frio sentido devido aos liquidos incolores e gelados, começa-se a sentir um formigueiro arrepiante na vagina que a mim me contraia inexplicavelmente os joelhos. E ali ficava meio arrepiada à espera que pouco depois passasse, tal como me tinha informado a enfermeira. Pouco tempo depois de iniciar a transfusão do liquido vermelho ( este o responsável pelas nossas exuberantes carecas), senti frio.Tocava o braço injectado e sentia-o gelado. Era aquele arrepio de gelo que me subia e descia... descia e subia pela espinal medula. A enfermeira trouxe-me para me cobrir o braço um resguardo, daqueles que se metem nas camas, por cima do colchão e antes do lençol, impermiável dum lado e algodão acolhedor, do outro.


O liquido tinha de correr mais vagorasamente do que o normal, doia se assim não fosse. E o tratamento demorou cerca de uma hora. Sai de lá, a caminho do elevador para descer ao 1ºandar onde é a saida para o parque. O joel foi buscar a carrinha, enquanto eu fiquei sentada na escada... sorria para o lindo dia azul de verão e dizia contente a mim mesma: "Menos um...só faltam cinco".

Tem de ser assim a contagem....sempre menos um...

Eram umas 12h 35m, lembro-me de ter olhado o relógio, já iamos a caminho de casa...como me parecia estar bem sem qualquer mal estar, só um pouquinho fraca das pernas, dicidimos parar a meio caminho e ir almoçar num restaurante daqueles "de camionistas" que por esta estrada fora, Nacional nº10, existem.São alguns os restaurantes que exibem aquelas travessadas enormes de comida farta que enfartam brutos, a que chamam doses, mais especificamente para enfartar pessoal da construção civil e camionistas. E este devia ter tambem um chamariz especial para familias ciganas, estavam lá umas quantas, com crianças a chorar, e pais a gritarem, um éden ... Acertamos em cheio no restaurante, para quem acaba de fazer uma quimioterapia. Pronto, digamos que é um optimo restaurante de camionistas, ciganas e pessoal que vem da quimio.Comemos corvina cosida com feijão verde e batatas cosidas. A comida era boa. Não comi muito, não me senti mal.

Chegamos a casa, fiquei sozinha pela tarde fora, deitada no sofá, televisão ligada... sempre à espera de uma reacção qualquer...mas nada acontecia de diferente. Só um calor, que vinha de dentro, e aquela sede ou necessidade de ingerir bastantes liquidos, principalmente agua. Era ver-me sempre seguida por uma garrafa de litro e meio de agua, para onde quer que fosse.

Fui buscar o meu filho ao colégio, fomos para casa, dei-lhe banho... ele ia fazendo a birrinha habitual, para se vestir. Pus ao lume um bife de peru...e arroz branco.... Começavam a chegar as minhas visitas para saberem como tinha corrido o primeiro tratamento. Os telefonemas tambem se fizeram sentir, e sabem sempre bem...e eu como se nada fosse, nem ponta de efeitos secundarios.Era a Paula preocupada: " amiga, deves estar a sentir-te tão mal!"...e eu acalmava-a com a verdade " qual quê! não sinto nada! não te preocupes, isto está a correr bem". A Mila pronta para dar à luz, preocupadissima:" nem te posso ajudar, Isa! logo agora que estou à espera das contracções, o tempo ja acabou, e o meu Beto deve estar quase ai!". " Vai lá descansada para o hospital, que eu vou lá ter...não posso perder os primeiros dias do nosso Beto! "...dizia-lhe. A minha sobrinha Ni abraçava-me e dizia com as lágrimas nos lindos olhos esverdeados que eu tanto gosto: "Vamos conseguir...".

À noite, quando me deitei na cama para dormir, ai começou a má disposição... sem posição para estar com a cabeça, o urinar constante devido aos liquidos ingeridos, a mesma cor vermelha que corria dos frascos envoltos em papel de aluminio, pelas borrachas até ao meu corpo, saia agora em forma de urina, bem vermelha. Consegui adormecer e acordar pela noite umas quantas vezes, com muito calor no corpo. Pela manhã, o Joel olhou e disse-me: " caramba tu estas toda vermelha!"... e assim fiquei durante uns dias .... a dormir mal, agoniada pela noite fora ingerindo aqueles comprimidos que nos receitam logo, para o estômago.As dores no braço eram algumas, e eu descansava enquanto o Miguel estava no colégio, mas quando ele regressava, tinha umas horas de trabalho arduo pela frente. Principalmente quando conclui, depois de acontecer uns quantos dias seguidos, o Miguel só fazia as fraldadas cheias e cheirosas, no regalo do lar. Isto traduzido, era exactamente o que me provocava as grandes agonias no rescaldo das quimios... Eram os banhos, o jantar, o entretenimento, o receio que algo acontecesse se eu não estivesse atenta...ele tem vinte seis meses, todo o cuidado é pouco.Pela manha, aqueço-lhe o leite e ponho-o no biberon, e é lava-lo, vesti-lo, pentea-lo e a maior parte das vezes leva-lo a escola. Por outro lado, toda esta correria não me deixava ter tempo para queixumes nem para grandes introspecções, mantendo ocupado o fisico, não havia quase espaço para pensar coisas desnecessarias. Sempre a maior força de todas, a maior garantia para me salvar, era o não puder fraquejar, o não puder encostar-me à cama...o meu filho precisa de mim.

Porque para alem de todo o auxilio que me possam oferecer, ele só pode contar comigo e eu com ele. Queria protege-lo, quero dar-lhe muito amor, muita segurança, muito colo, e na noite... adormece,abraçado a mim ou com a mão pequenina na minha...tão bom quando me diz " és giaaaa mãezinha".

domingo, 15 de julho de 2007

O início da quimioterapia...

8 de Setembro 2006

O Agosto trazia calor e o receio do inicio da quimio... tanto que se fala, das maldades deste tratamento, que destroi as células boas, juntamente com a benção da destruição às más, que andam por aqui a mais. E até agora, é a melhor e a mais eficaz forma de luta, às celulas anormais e de crescimento rapido como o são, as celulas tumorais. Mas da parte cientifica, percebo pouco, e tambem não perguntei muito.

No entanto, em Agosto, tive uma consulta feita pela enfermeira responsável pelo hospital de dia, no Hospital Garcia da Orta, penso eu. Bastante simpatica, muito humana, deu-me os endereços das casas de proteses capilares em Lisboa...eu já me tinha antecipado. Fez-me um desenho, se assim posso chamar, daquilo que se iria passar, o tratamento demoraria cerca de 30m a 1h, os efeitos secundarios indesejaveis seriam: vómitos, diarreia e aftas na boca.Não deveria apanhar sol, e quando o fizesse, no caso de ir ás compras, enfim...não ir à praia, logicamente, porque essa será de evitar durante pelo menos, dois anos. Mas teria de utilizar um protector solar 50 ou mesmo 60, para evitar ficar com a pele manchada. Em caso de febre, e isto seria mais de 38 graus, telefonar para o hospital de dia. Disse-me: "vou embora hoje, é a minha ultima entrevista, vou para outro hospital, no entanto vou perguntando por si, às minhas colegas. Tudo vai correr bem, a quimioterapia vai limpar alguma coisa a mais no seu organismo que não interessa que lá esteja". Foi bom aquele abraço, aquelas palavras, gostei tanto dessa enfermeira, que não lembro o nome, mas que me soube deixar o caminho aberto para a recuperação psicológica...porque não é só o nosso corpo que sofre. São as nossas emoções maltratadas...a nossa impaciência, o medo do desconhecido...o medo de não cumprir o dever de mãe... a culpa de não ter sabido amar e de ter sido mal amada... e agora a cura psicológica é uma meta como a cura fisica.Ambas importantes, ambas necessárias e vitais.

Tive a primeira consulta de oncologia no dia 8 de Setembro. Tinha feito o hemograma no dia anterior, e agora antes do inicio do tratamento, consulta com o Dr frederico Sanches. Eu e ele num gabinete. Eu com receio das respostas às perguntas que tinha preparadas para lhe fazer, que não tinha tido oportunidade de fazer a Dra Antonia. Ele com os olhos pregados numa folha de papel. Disse-me que eu iria fazer 6 ciclos de quimioterapia adjunvante, e de seguida Radioterapia e por fim harmonoterapia. Não pretendia extravazar de informação, mas insisti para que me desse informações como: o tamanho da "besta", a qualidade, a possibilidade de reincidênca, o facto de não ter metastases em Junho, possibilidade de aparecerem porque eu tinha um gânglio axilar positivo. Digamos que quase acabei por negociar com ele.
Ele percebeu que mesmo sem lhe dizer, eu estava em pré-pânico, com receio das suas palavras: " veja lá Doutor o que me diz, porque eu estou sensivel até a raiz das pestanas!". Começou por me perguntar se eu não tinha acompanhante, porque nestas consultas os doentes acumulam pouca informação...ou melhor ele receava o modo como eu reagiria ás informações. Disse-me:" ja deveria ter começado o protocolo da quimioterapia à um mês atrás...." pronto, fiquei aflita! continuou:"... existe uma lista de espera enorme para os tratamentos, que não é nada fácil dar-mos resposta como gostariamos". Mas nós pensamos logo egoisticamente, em nós....deviam-me ter chamado mais cedo!...sabem lá se eu vou reagir bem ao tratamento? porque o tempo nas pessoas mais jovens é fundamental, devido à mais rapida reprodução das células, do que nas pessoas menos jovens e menopausicas. A meio da consulta apareceu o Dr Marques Ferreira, responsável pelo serviço de oncologia, simpático, pareceu-me também ele reservado, opinou sobre o facto de eu ter de levar trimestralmente uma injecção. E o Dr Freferico continuava a informação:"... se tivesse ficado sem a mama, não necessitaria de fazer radioterapia". Pensei logo,:- venha a radioterapia, decerto, pior seria ficar sem a mama. E se não ma tiraram é porque não era necessário. Disse à Dra Antonia para fazer o que achasse melhor. Melhor que ninguém, estes especialistas sabem o que fazem, e temos de ter confiança neles, porque senão fosse assim, as nossas expectativas ficariam de rastos, e não nos faria nada bem.

No mesmo dia, chegou a hora, de iniciar a quimio...eu e o Joel no corredor aguardavamos que me chamassem do hospital de dia. Que minutos estes... inevitável as lágrimas, de tristeza ou de aceitação e sempre a esperança que esta doença nunca mais volte. Chorava silenciosamente, quando uma senhora se aproximou de nós, e me disse : "eu sei que vais fazer quimioterapia, vi-te ontem a fazer análises, não chores, isto não é o papão que dizem!...olha a mim nem me caiu o cabelo...tem estado fraco, mas está curto, e ja levei uns quinze tratamentos", não me recordo se era este o número, ou se era para mais disto. "...tenho um cancro nos ovários, mas já espalhado... mas não tenho aspecto de doente, pois não?". Não mais a vi...mas esta mulher de uns cinquenta anos, de baixa estatura, magra, de feiçoes bonitas, deixou-me sem palavras, deixou-me tambem envorgonhada, pequenina. Estas pessoas lutam contra esta maldita doença com uma altivez, enquanto eu só sinto vontade de largar lágrimas ...sempre com uma dor concentrada no crânio, que me deixava doida de medo... ainda cheguei a pedir que me mandassem fazer um TAC à cabeça. Mas o médico não foi nisso... não deveria ser para poupar uns trocos ao estado, mas porque não achou necessidade disso.

Entrei para o hospital de dia, ainda da parte de manhã e isto é quase idêntico às salas de xuto, que tinha visto em tempos numa reportagem. Uns 14 m2 de sala com uma pequena casa de banho logo à entrada á esquerda, e no resto da sala, encostados á parede esquerda e à direita...sofás individuais castanhos, uns 10. Uma secretaria e um lava louças, ao fundo.Onde desembrulham a medicação. Por cima de cada sofá, um "candeeiro" onde penduram as garrafadas de medicamentos, que nos injectam. Existe um cheiro caracteristico, que enjoei... bem sei porquê... uma janela aberta, perto da secretaria.Ao lado da casa de banho, à esquerda da porta de entrada um lavatório, por baixo uns caixotes de lixo.Perto da porta de entrada, habitualmente está um tabuleiro deixado pelas auxiliares ou voluntariado, com sandes e sumos, por vezes um termo com chá. Por aqui, não se passa fome, como podem notar. Dizia-me a Maria Jõão que começou com a quimioterapia um mês antes de mim..." aquilo até se passa bem...imagina que até nos dão sopa, sumos e pão". Fiquei com os neuronios muito aconchegados só de pensar que afinal não devia ser tão mau, se as pessoas continuavam com fome...eu por mim acho que nunca vou conseguir comer lá nada, nem beber!...e nem sou daquelas pessoas muito esquisitas... mas enquanto eu passava lá uma hora a Maria João chegava a lá estar quatro...até adormecia pelo meio.
Sentei-me no único sofá que tinha vagado, poucos segundos antes de me chamarem, ao lado duma senhora que deveria ser pouco mais velha que eu, mas bastante forte, sem cabelo, mas tambem sem problema de mostrar a cabeça careca com uma penugem idêntica aos pintos quando saiem dos ninhos, exibia-a quase como um troféu de guerra. Assim que me sentei, olhei para ela, sorri-lhe e pronto...lá começou o interrogatório, a que me fui habituando.Não é por mal...é sempre para tornar a passagem por ali mais fácil, menos agonizante, mas eu de algum modo sinto necessidade de estar um pouco em silêncio comigo...pedir nessa hora a Deus, que abencoe o liquido vermelho e os incolores que me injectam, que passe pelas células boas sem as destruir, e que elemine as más.É a minha oração, sempre a pedir protecção à nossa Senhora de Fátima.De seguida, a senhora contou-me que a doença apareceu-lhe, fez uma intervenção cirurgica, tiraram-lhe a mama e alguns gânglios debaixo do braço. E tinha um grande número de gânglios com doença. Nunca baixou os braços e almeja ficar sã...não se revoltou, nem sequer se questionou porque lhe tinha aparecido, simplesmente aceitou... tal como tem aceite tudo o que de bom a vida lhe tem dado.O marido tinho curado um cancro raro num olho...deixou de ver, mas foi lhe feito um transplante e hoje em dia faz a vida normal. E com ela vai ser igual...vai vencer esta maldita doença.
Sinto-me cada vez mais pequena, ao conhecer estas pessoas, que tratam todos estes afazeres por tu, tornam todas estas anormalidades normais. Não sei o que as move...só sei que há-de chegar um dia, que eu quero ter este desapego por tudo isto, conseguir retirar só os ensinamentos desta azáfama e apoiar aqueles que passem por aquilo que estou a passar. Temos que adquirir um grau de confiança enorme na medicina, nos outros e em nós proprios.

sexta-feira, 6 de julho de 2007

As pegadas da areia.


"Uma noite eu tive um sonho...

Sonhei que estava andando com o Senhor, e através do céu passavam cenas da minha vida. Para cada cena que se passava percebi que eram deixados dois pares de pegadas na areia: um era o meu e o outro do Senhor.
Quando a ultima cena da minha vida passou diante de nós, olhei para trás, para as pegadas na areia, e notei que, muitas vezes, no caminho da minha vida, havia apenas um par de pegadas na areia. Notei, também, que isso aconteceu nos momentos mais dificeis e angustiosos do meu viver. Isso entristeceu-me deveras, e perguntei então ao Senhor: - Senhor, tu me disseste que, uma vez que eu resolvi Te seguir, Tu andarias sempre comigo, mas notei que, durante as maiores atribulações do meu viver, havia na areia dos caminhos da vida apenas um par de pegadas. Não compreendo por que nas horas que eu mais necessitava de Ti, Tu me deixaste. O Senhor me respondeu:- Meu precioso filho, Eu te amo e jamais te deixaria nas horas da tua prova e do teu sofrimento. Quando viste na areia apenas um par de pegadas, foi exactamente ai que Eu, nos braços te carreguei..."


" É isto, isto é a verdade. Ele não está connosco, Ele está em nós!".


Queria dedicar às pessoas que estão a passar uma fase dificil, na cura da doença, que nos desgasta e fere a alma em várias momentos. Que acreditem, que afinal é Ele que nos vai carregando ao colo, quando no meio do sofrimento...as nossas lágrimas caiem e não são de alegria. Já algum tempo tinha lido este pequeno texto, mas hoje, ele tem um significado diferente quando o reli, num livro de Otilia Pires de Lima, que tem o lindo titulo " Viver de Amar". É um livro escrito por uma senhora que passou por uma das doenças graves, que nós infelizmente, bem conhecemos, como o é a leucemia. É uma história veridica, escrita em tempo real, e tem como principal objectivo mostrar qu vencer a morte é possível. E se ela passou um mau bocado... nós também conseguiremos...

quinta-feira, 5 de julho de 2007

Dias 3 e 4 de Julho de 2007.



Acabei de receber uma multa em casa, por não ter usado colete, num acidente automovel em cadeia, de que tambem fiz parte, na passada quinta-feira.Nada mais nada menos do que 120,00 €, em carta registada. Não posso dizer que este dinheiro, não me faça falta, mas para além dos nomes todos que já chamei a guarda nacional republicana, só no dia de hoje e num curto espaço de tempo, dava para encher um caderno A4, quadriculado, nem sequer ouso repetir aqui algum.


Mas não fiquei de todo triste, porque desde ontem só tenho motivos para estar contente, e sabem porquê?... ora bem, porque fui ao hospital Garcia da Orta fazer uma eco abdominal, e se entrei para lá a tremer, sai de lá com uma vontade de dar saltos! pois é ... está tudo bem. Eu e o meu marido saimos de lá rejuvenescidos, fomos à escolinha buscar o Miguel e rumamos com as toalhas de praia, a Sesimbra. Fomos para a praia, já era umas seis da tarde, e por lá ficamos algum tempo, até decidirmos ir a um restaurante que hà vinte anos atrás era o melhor da região, ou um dos melhores "Actualmente já devia ter perdido alguma estrela, mas lá comemos peixe fresco e bebemos uma sangria de espumante. Bem...nem vos conto, a bebida era mais fruta do que liquido, sem exagerar, em vez de ser bebida a copo, quase valia mais ser comida à colher...mas estava tão boaaaaa!!! Haverá lá coisa nos próximos dias, que não seja boooommmm?




Os anos do Miguel Martim, o meu lindo nino, foi no dia três, e todos vocês se lembraram de me dar os parabéns...fiquei muito contentinha. Fomos fazer a festinha na escola com os amigos dele, pelas 16 h e mais tarde reunimos os familiares e amigos proximos, em casa. A bem dizer, alguns tiveram que ficar à porta de casa....houve grelhados na rua, e jogo em casa. Jogaram à pinhata e fizemos karaoke. Foi uma noite bem passada com o meu menino de volta de uma linha de comboio, com aquelas carruagens que apesar de pequenas, fazem um barulho estridente de uma motorizada.
Para vos abrir o apetite, aqui vai uma foto do bolo de anos. É o carro do Nody, só podia...

Proximas visitas a Almada para exames, dia 9 e 10 deste mês, mamografia, ecografia mamária e rx torax. Um grande beijo ... e a todos bons diagnósticos...



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