Iluminar os dias, continuando a sonhar que é possível viver...

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Setubal, Portugal
Um abraço, uma palavra, um sorriso... um caminho que poderá ser muito longo. Afinal é possível.

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Agradecimento ao Gil....

Diário: 9 de Outubro de 2006

A febre estava alta, o telefone tocou nesta noite , ao atender, ouvi a Mila do outro lado, preocupadissima comigo," Porque não falas com o Gil?"....

Telefonei ao Dr. Gil, a quem eu conheço por ser irmão do Beti, um amigo meu de anos, e cunhado da Mila, a minha amiga desde os tempos em que derramavamos palavras nos bancos da escola e programava-mos teatrinhos, escreviam-mos poemas, construiamos uma amizade a que os tempos e a distancia não maltratou. Quando nos encontramos, quando precisamos, somos um pilar uma da outra. Tambem ela desta vez, me mostrou um caminho facil, para uma pessoa que eu mal conhecendo, me apoiou e ajudou nesta fase da quimioterapia.

Só o que me diminuiu a febre nesta altura dos acontecimentos, a que algo de bastante incomodo parecia iniciar uma infecção...uma valente queda dos valores do sangue. Foi o extracto hidrofílico Pau d'Arco, sem alcool, 3 colheres de sopa ao dia. Tomei e no dia seguinte parecia renascida das cinzas. Não sei explicar o porquê...
O medo de algo pior, era tanto que eu experimentava qualquer coisa. Uma vez que no hospital parecem ter esgotado as possibilidades dos medicamentos possiveis, da ultima vez que la fui. Andei a tomar disto uma semana mais ou menos. E comecei a frequentar o consultório em Palmela do Gil. Duas vezes por semana, lá me encaminhava para a sessão de Acunpuctura. O braço esquerdo onde levava tratamento apresentava já alguma saturação, as veias começavam a ter aspecto queimado e no cotovelo haviam algumas que pareciam autentico arame, de tesas.

Reflexologia nos pés.... agulhas espalhadas por uns oito pontos do braço, testa, pernas, pés. Saia de lá bastante grata a todos os estudos de anatomia chinesa.

O Gilberto, estudou na Escola Superior de Medicina Chinesa do Dr. Pedro Choy, ja fez umas viagens de formação à China, Singapura. É também um autodidacta...anda entusiasmado a aprender alemão por uma gramática comprada recentemente. Quando lá chegava esperava algum tempo, que ele chegasse à sala de espera e me encaminhasse ao tratamento. A minha quimio, foi seguida pelo Gil, a partir desta altura . Os meus efeitos secundarios de outrora, estavam agora mais leves e quase imperceptíveis.
Tambem me ajudava a melhorar o estado de Alma. Assim que entrava na sala de tratamentos ele sentava-se por trás da secretária, e não houve uma unica vez que escrevesse nada daquilo que eu dizia, e ainda assim tenho a certeza que não esquecia uma unica frase que eu dissesse. Pregava os seus olhos azuis mar em mim...e perguntava-me :" Isa, como está a tua alma?. "A principio, eu tinha vontade de lhe responder: "qual alma qual quê?!...existe um corpo, doente. De Alma nada conheço, só a procura pouco sensata nos romances, em que se fala de Alma gémea."

Mas, lá respondia com poucas palavras, e passados poucos dias...autenticos dialogos do coração e da alma. Falamos de viagens, dos meus projectos agora ameaçados, dos meus sonhos, da minha familia, da sua familia, das suas viagens, dos conhecimentos adquiridos nos ultimos tempos. Enquanto houvessem palavras...não iniciavamos o tratamento e quando o faziamos, algumas vezes cantavamos musicas de outros tempos, e riamos bastante. Era disto que eu precisava. Foi isto que a doença me mostrou...que existem pessoas que eu não conhecendo, me ajudavam agora a reconquistar o meu lugar ao Sol. Não foi em troca de dinheiro a sua ajuda... não houve uma consulta que ele aceitasse um euro. É com lagrimas, que hoje lhe agradeço a Mão...e as agulhas também.
Lembro-me logo no inicio... lhe ter dito qualquer coisa como isto: " Sinto-me tão pobre, olho para trás e não fiz nada que me orgulhe, nada que me diga hoje que valeu a pena ter vivido sempre a correr, a não ser ter tido um filho...mas nem ele eu posso dizer que tenho, os filhos nascem não para serem nossos, mas para a vida."

I

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Carmo...


Hoje é o dia da segunda intervenção cirurgica à nossa amiga Carmo de Beja.
Desta vez para fazer esvaziamento axilar.
Neste dia estamos todos contigo Carmo, concentrados para que tudo corra bem e rápido, para logo estares de regresso ao carinho do lar.
Deixo-te palavras de uma alentejana de Montemor-o-Novo, que eu gosto e admiro bastante, Mafalda Veiga. Nas nossas raizes, por vezes, existe uma força mais forte.
Um pouco de Céu...

Só hoje senti
Que o rumo a seguir
Levava pra longe
Senti que este chão
Já não tinha espaço
para tudo o que foge
Não sei o motivo pra ir
Só sei que não posso ficar
Não sei o que vem a seguir
Mas quero procurar
E hoje deixei
De tentar erguer
Os planos de sempre
Aqueles que são
Pra outro amanhã
Que há-de ser diferente
Não quero levar o que dei
Talvez nem sequer o que é meu
É que hoje parece bastar
Um pouco de céu
Um pouco de céu
Só hoje esperei
Já sem desespero
Que a noite caísse
Nenhuma palavra
Foi hoje diferente
Do que já se disse
E há qualquer coisa a nascer
Bem dentro no fundo de mim
E há uma força a vencer
Qualquer outro fim

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Parabéns Laura...

DSC07224 Parabéns Laura, por mais um aniversário. Que tenhas todos os presentes pedidos, principalmente os do coração. Mereces tudo o que a vida tem de bom, mereces em dobro tudo o que dás. És uma grande mulher, uma grande amiga...Um beijo enorme e o resto de um dia muito feliz.

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

41 Anos... á grande !

Hospede inúmeras fotos no slide.com GRÁTIS!


Já se vai a má disposição do ano anterior.

Este ano, senti-me obrigada a festejar o meu aniversário perto das pessoas da familia que estiveram perto, nos piores momentos do ano anterior.
Senti necessidade de agradecer mais um ano de vida. O que eu, outros anos não ligava, este ano fiz questão de fazer. Cozinhei o ensopado de borrego, o bacalhau à Gomes de Sá (quem quiser, e só pedirem as receitas), fiz as sobremesas variadas...nem imaginam, como gostaram, e comeram. Não imaginam o q beberam... mas correu tudo seis estrelas.

Tambem tive muitas mensagens, telefonemas, emails de amigos, incluindo dos meus novos amigos do coração. Estou decerto mais rica, do que à dois anos atrás.

Em relação ao ano passado , este dia, foi de escuridão, de medo...
este ano, é de Luz, de Alegria...

Obrigada a todos que me ajudaram a Iluminar este canto e a minha vida.

sábado, 6 de outubro de 2007

Os meus 40 anos, dia 8 de Outubro de 2006.






Diario: 8 de outubro 2006

Esta constipação, está a deixar-me demasiado fraca. O Joel apareceu em casa com um bolo de anos "Parabéns Isa", e um ramo de flores e intenções embrulhados num papel abrilhantado e salpicado de brilhantes, que nem me lembro se retribui em forma de sorriso o agradecimento.Mas o dia estava a ser dificil, a febre ora subia, ora descia, a sonolência era alguma, o medo de poder ser internada diambulava pela sala. A falta de paciência para o meu filho, que dizia vezes sem conta: anos da mãe, anos da mãe. E eu estava tão atormentada no meio de mil pensamentos todos negativos, que tive de arranjar forças suficientes para reunir a minha familia: marido, filho, enteados, irmão, cunhada e sobrinhos.Até porque o meu irmão, teve intervenção cirurgica no mês passado à hipófise, ainda está a restabelecer-se também precisa de estabilidade, não quero que se aperceba que esta noite promete, sabe-se lá o quê.

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

A caminho da 3ºquimioterapia...

Diario: 27 Setembro 2006

Ainda não me sinto com coragem suficiente para apresentar o meu pai.Muito menos falar dele.Mas todas as pessoas teem pai, teem mãe, é o seu bilhete de identidade. As qualidades do meu pai, estão muito bem guardadas, só conhecidas e reconhecidas por estranhos. Um pai presente qb até aos meus dezoito anos e mais valia não ter estado. Porque só foi nefasto os seus ensinamentos. Provocou-nos irritação, revolta e medo. A mim, à minha mãe, e aos meus irmãos.Não soube unir os filhos, soube sim criar divergências entre nós. Dai o significado da união de facto, ser para mim, até à
pouco tempo, um atestado de inutilidade.

Contrariamente,a minha mãe... era...foi uma grande Mãe, a minha querida Mãe.

Fui ao escritório, e mais uma vez, foi uma manhã ocupada. Gosto disso.
Hoje foi autorizada a fusão da tmn com a optimus. A bolsa reagiu em alta. A opa da sonae sobre a pt. A sonae subiu 8 % , no final do dia. Não me parece que vá haver uma contra-opa.Pais de Amaral está calmo. Finalmente o desmenbramento da Portugal Telecom, a rede fixa separada da rede por cabo. Os trabalhadores querem que o governo bloquei o negocio. Mas penso que de um modo ou de outro a pt iria separar as águas. O estado tem a golden chare, vamos ver como vai reagir quando chegar a hora da sua decisão. Os accionistas parecem-me interessados nos futuros dividendos, caso se mantenham fieis à Sonae.com. Isto tambem só é importante, na medida em que já gostei de ganhar uns trocos na bolsa. Tambem ja perdi...tambem já dei dinheiro a ganhar. E agora, tenho tempo para me informar devidamente, nao tenho é paciência. No meio destas divagações, estava a instalar-se, a prevista constipação.

28 de Setembro 2006

Acidente de viação no Brasil, um voo de Manaus para o Rio de Janeiro. Cento e tantas pessoas mortas. Assusta-me que a morte seja uma entrada pela porta desconhecida, sem retorno. Uma incógnita… uma luz no fundo do túnel, a permissa mais certa que a fome. Não escolhemos se queremos ir ou não ir. Alguém sabe quando é a nossa altura? Quando chega a nossa hora? Estamos todos numa fila à espera... e todos sabemos disso...no entanto o tabu do desconhecido atormenta-nos, a decadência do conhecido... e as merdas das constipações quando os valores sanguineos estão de rastos.

Manaus, uma das minhas cidades de sonho, que gostaria de visitar, para além de ser historicamente, um simbolo, a cidade rica da borracha, luxuosa, é uma das entradas para a Amazónia. Adorava lá ir com o Joel e o Miguel. E fazer um daqueles casamentos simbólicos indio. À quanto tempo eu me vejo com umas longas tranças e umas penas na cabéça, com um cordel a enrolar-se ao indicador esquerdo. Seria lindo!

Estou a ficar com especturação, dores na cabeça…as moscas irritam-me, o meu filho tem o ouvido esquerdo inflamado, doi-me assim que me tocam …o braço esquerdo. Estou resmungona, dorida, saturada. Nem me quero lembrar que a terceira dose vem ai. E sinto medo! medo desta apatia em que por vezes caio e quamdo me levanto dela é com algum cansaço para enfrentar os dias.

3 de Outubro de 2006

Hoje o menino faz 27 meses. Para variar tem sido um dia dificil. Aliás desde que o mês de Outubro começou as coisas teem sido dificies…bastante dificies. Fui no domingo passado, dia 1, ao Garcia da Orta às urgências, mas não havia ninguém no 8º andar. Só os internados, e a enfermeira disse-me que seria melhor lá voltar no dia seguinte. E isso foi ontem, segunda-feira. Lá fui ao mesmo andar, vi as mesmas caras na recepção, não tão simpáticas como seria desejável num sitio daqueles. Mas, pronto…lá temos que tolerar, porque todos temos maus dias, até as recepcionistas. O Dr Frederico está de férias e eu pedi para ser vista por outro médico, até podia ser a Dra Judite, que já me atendeu na ultima consulta. A recepcionista, fez-me um sinal para me chamar e baixinho disse: "meta-se ali ao pé da porta e fale com a dra”. Correctissimo, pensei: "deixa ver se vou cair algures para este corredor ou ali na sala de espera". A Dra, logo de seguida, ao sair a paciente que estava a consultar, olhou para mim com cara de poucos amigos, e depois de eu lhe pedir uma consulta com alguma urgência, eu não estava para tratamento. Olhou-me, e ouvi ruidosamente as seguintes silabas: “ atendo-a, mas depois dos outros”. E ali fiquei eu, com cara de palerma, bastante agradecida pelo favor que me iria prestar. E de facto prestou 4 horas depois.Fui atendida por volta das 13 horas. E depois de eu tambem, ter feito um festival na recepção. Sim, porque eu vim para uma urgência, não me estou a sentir bem para estar aqui toda a manhã já quase a entrar pela tarde dentro. “È que a médica não se pode esticar!” dizia-me a recepcionista, ao que eu respondi:…"acredito, mas olhe que eu tambem não me posso encolher." E tenho o direito de ter prioridade aqui ou nas urgências no rés do chao. Bem sei que não andam cá para me agradarem e servir prioritariamente, mas tambem isto era abusar. E os meus sintomas eram os de uma verdadeira gripalhada, com direito a rouquidão e a febre. Bonito, lá a dra Judite me disse que me iria prestar o favor, porque não fazia parte das suas consultas desse dia. Eu disse-lhe que compreendia o muito trabalho que tinham, mas que não aceitava a justificação de ter esperado tanto tempo para uma urgência, como a mais acertada.
Já nos chega a doença para nos devastar as horas, quanto mais a espera para receitarem um xarope, uns nimedes de 12 em 12 horas, e um zyrtec pela noite. Consulta de cinco minutos da amabilidade da senhora doutora. E eu numa agonia e má disposição geral. Como diria a Claudia, é preciso ter uma saude de ferro para estar doente.Hoje recebi a carta registada do tribunal com o manifesto direito de defesa naquele caso do terreno, que me vejo embrulhada desde 2003, com o meu irmão mais velho.
Recebi outra não registada, da segurança social, mas esta com um atraso quase mensal. Para que eu fosse fazer prova de invalidez com todos os documentos que provem o meu estado. Só que eu devia lá ter estado no dia 28 de Setembro!…impressionante, como é que vou provar este atraso dos correios? Ainda me tiram a miserenta baixa.Tem sido um periodo demasiado tramado!... o meu estado febril, a atenção que o Miguel necessita, aturar o meu pai e as suas exigências, os curto-circuitos lá de casa e as visitas dos técnicos da EDP, as contas enormes da agua e da luz para pagar já de uns meses a esta parte só porque o meu pai decidiu albergar uma familia, tenho tambem os médicos e a segurança social á perna?... já nem falo da minha vida pessoal, que está mais impessoal que a caixa negra duma nave espacial.

Vai ser um mês comprido. O mês dos meus anos. Farei 40 anos no proximo dia 8. Formidavel...uma entrada em grande nos entas, mas pela porta dos fundos.

6 de outubro 2006

Dia do terceiro tratamento, mas mais uma vez se repetiu o tal diagnostico, “leucocitos a menos”.

7 de outubro de 2006

Isto hoje está do pior. Doi-me o corpo, não tenho paciência para me ouvir, continuo surda, com ruidos nos ouvidos e na cabeça.

Esta semana no escritório, a Dª Isabel Pena, uma senhora a quem eu faço a contabilidade, já não me via desde que me foi diagnosticada a doença. E sempre que passava pelo escritório, perguntava por mim, como muitos outros clientes o teem feito, a quem eu agradeço a amabilidade e a amizade. Mas ela, pedia que nao esquecessem de me dizer, que eu fazia parte das preces dela. Que todos os dias rezava, pedindo a Deus por mim, que eu era uma menina boa, que nunca tinha feito mal a ninguém, que tenho um bébé que precisaa de mim, e que Deus é piedoso.
Esta senhora, já perdeu um filho muito novo num acidente de viação à uns anos atrás, e o marido, há menos tempo. Mas são duas dores sem tamanho.Quem os conhecia bem, pensava que ela não iria suportar. Mas é uma lutadora, é uma mãe extremosa e uma avó presente, e tambem uma mulher de negócios. É de pessoas com fibra como esta, que eu gosto de falar aqui. Porque a dor foi e é grande, e só a tem tornado uma mulher cada vez maior. È crente e sei que as palavras dela são verdadeiras, são pura bondade. Então, ela mandou chamar-me um dia e abraçamo-nos, choramos… lavou-me a cara e a alma . Ela perguntou-me se eu tinha a minha mãe para me ajudar, e eu disse-lhe que a minha mãe já cá não está, mas está a judar-me concerteza onde quer que esteja. Ela ficou com os olhinhos, rasos de água.