Iluminar os dias, continuando a sonhar que é possível viver...

Minha foto
Setubal, Portugal
Um abraço, uma palavra, um sorriso... um caminho que poderá ser muito longo. Afinal é possível.

domingo, 15 de julho de 2007

O início da quimioterapia...

8 de Setembro 2006

O Agosto trazia calor e o receio do inicio da quimio... tanto que se fala, das maldades deste tratamento, que destroi as células boas, juntamente com a benção da destruição às más, que andam por aqui a mais. E até agora, é a melhor e a mais eficaz forma de luta, às celulas anormais e de crescimento rapido como o são, as celulas tumorais. Mas da parte cientifica, percebo pouco, e tambem não perguntei muito.

No entanto, em Agosto, tive uma consulta feita pela enfermeira responsável pelo hospital de dia, no Hospital Garcia da Orta, penso eu. Bastante simpatica, muito humana, deu-me os endereços das casas de proteses capilares em Lisboa...eu já me tinha antecipado. Fez-me um desenho, se assim posso chamar, daquilo que se iria passar, o tratamento demoraria cerca de 30m a 1h, os efeitos secundarios indesejaveis seriam: vómitos, diarreia e aftas na boca.Não deveria apanhar sol, e quando o fizesse, no caso de ir ás compras, enfim...não ir à praia, logicamente, porque essa será de evitar durante pelo menos, dois anos. Mas teria de utilizar um protector solar 50 ou mesmo 60, para evitar ficar com a pele manchada. Em caso de febre, e isto seria mais de 38 graus, telefonar para o hospital de dia. Disse-me: "vou embora hoje, é a minha ultima entrevista, vou para outro hospital, no entanto vou perguntando por si, às minhas colegas. Tudo vai correr bem, a quimioterapia vai limpar alguma coisa a mais no seu organismo que não interessa que lá esteja". Foi bom aquele abraço, aquelas palavras, gostei tanto dessa enfermeira, que não lembro o nome, mas que me soube deixar o caminho aberto para a recuperação psicológica...porque não é só o nosso corpo que sofre. São as nossas emoções maltratadas...a nossa impaciência, o medo do desconhecido...o medo de não cumprir o dever de mãe... a culpa de não ter sabido amar e de ter sido mal amada... e agora a cura psicológica é uma meta como a cura fisica.Ambas importantes, ambas necessárias e vitais.

Tive a primeira consulta de oncologia no dia 8 de Setembro. Tinha feito o hemograma no dia anterior, e agora antes do inicio do tratamento, consulta com o Dr frederico Sanches. Eu e ele num gabinete. Eu com receio das respostas às perguntas que tinha preparadas para lhe fazer, que não tinha tido oportunidade de fazer a Dra Antonia. Ele com os olhos pregados numa folha de papel. Disse-me que eu iria fazer 6 ciclos de quimioterapia adjunvante, e de seguida Radioterapia e por fim harmonoterapia. Não pretendia extravazar de informação, mas insisti para que me desse informações como: o tamanho da "besta", a qualidade, a possibilidade de reincidênca, o facto de não ter metastases em Junho, possibilidade de aparecerem porque eu tinha um gânglio axilar positivo. Digamos que quase acabei por negociar com ele.
Ele percebeu que mesmo sem lhe dizer, eu estava em pré-pânico, com receio das suas palavras: " veja lá Doutor o que me diz, porque eu estou sensivel até a raiz das pestanas!". Começou por me perguntar se eu não tinha acompanhante, porque nestas consultas os doentes acumulam pouca informação...ou melhor ele receava o modo como eu reagiria ás informações. Disse-me:" ja deveria ter começado o protocolo da quimioterapia à um mês atrás...." pronto, fiquei aflita! continuou:"... existe uma lista de espera enorme para os tratamentos, que não é nada fácil dar-mos resposta como gostariamos". Mas nós pensamos logo egoisticamente, em nós....deviam-me ter chamado mais cedo!...sabem lá se eu vou reagir bem ao tratamento? porque o tempo nas pessoas mais jovens é fundamental, devido à mais rapida reprodução das células, do que nas pessoas menos jovens e menopausicas. A meio da consulta apareceu o Dr Marques Ferreira, responsável pelo serviço de oncologia, simpático, pareceu-me também ele reservado, opinou sobre o facto de eu ter de levar trimestralmente uma injecção. E o Dr Freferico continuava a informação:"... se tivesse ficado sem a mama, não necessitaria de fazer radioterapia". Pensei logo,:- venha a radioterapia, decerto, pior seria ficar sem a mama. E se não ma tiraram é porque não era necessário. Disse à Dra Antonia para fazer o que achasse melhor. Melhor que ninguém, estes especialistas sabem o que fazem, e temos de ter confiança neles, porque senão fosse assim, as nossas expectativas ficariam de rastos, e não nos faria nada bem.

No mesmo dia, chegou a hora, de iniciar a quimio...eu e o Joel no corredor aguardavamos que me chamassem do hospital de dia. Que minutos estes... inevitável as lágrimas, de tristeza ou de aceitação e sempre a esperança que esta doença nunca mais volte. Chorava silenciosamente, quando uma senhora se aproximou de nós, e me disse : "eu sei que vais fazer quimioterapia, vi-te ontem a fazer análises, não chores, isto não é o papão que dizem!...olha a mim nem me caiu o cabelo...tem estado fraco, mas está curto, e ja levei uns quinze tratamentos", não me recordo se era este o número, ou se era para mais disto. "...tenho um cancro nos ovários, mas já espalhado... mas não tenho aspecto de doente, pois não?". Não mais a vi...mas esta mulher de uns cinquenta anos, de baixa estatura, magra, de feiçoes bonitas, deixou-me sem palavras, deixou-me tambem envorgonhada, pequenina. Estas pessoas lutam contra esta maldita doença com uma altivez, enquanto eu só sinto vontade de largar lágrimas ...sempre com uma dor concentrada no crânio, que me deixava doida de medo... ainda cheguei a pedir que me mandassem fazer um TAC à cabeça. Mas o médico não foi nisso... não deveria ser para poupar uns trocos ao estado, mas porque não achou necessidade disso.

Entrei para o hospital de dia, ainda da parte de manhã e isto é quase idêntico às salas de xuto, que tinha visto em tempos numa reportagem. Uns 14 m2 de sala com uma pequena casa de banho logo à entrada á esquerda, e no resto da sala, encostados á parede esquerda e à direita...sofás individuais castanhos, uns 10. Uma secretaria e um lava louças, ao fundo.Onde desembrulham a medicação. Por cima de cada sofá, um "candeeiro" onde penduram as garrafadas de medicamentos, que nos injectam. Existe um cheiro caracteristico, que enjoei... bem sei porquê... uma janela aberta, perto da secretaria.Ao lado da casa de banho, à esquerda da porta de entrada um lavatório, por baixo uns caixotes de lixo.Perto da porta de entrada, habitualmente está um tabuleiro deixado pelas auxiliares ou voluntariado, com sandes e sumos, por vezes um termo com chá. Por aqui, não se passa fome, como podem notar. Dizia-me a Maria Jõão que começou com a quimioterapia um mês antes de mim..." aquilo até se passa bem...imagina que até nos dão sopa, sumos e pão". Fiquei com os neuronios muito aconchegados só de pensar que afinal não devia ser tão mau, se as pessoas continuavam com fome...eu por mim acho que nunca vou conseguir comer lá nada, nem beber!...e nem sou daquelas pessoas muito esquisitas... mas enquanto eu passava lá uma hora a Maria João chegava a lá estar quatro...até adormecia pelo meio.
Sentei-me no único sofá que tinha vagado, poucos segundos antes de me chamarem, ao lado duma senhora que deveria ser pouco mais velha que eu, mas bastante forte, sem cabelo, mas tambem sem problema de mostrar a cabeça careca com uma penugem idêntica aos pintos quando saiem dos ninhos, exibia-a quase como um troféu de guerra. Assim que me sentei, olhei para ela, sorri-lhe e pronto...lá começou o interrogatório, a que me fui habituando.Não é por mal...é sempre para tornar a passagem por ali mais fácil, menos agonizante, mas eu de algum modo sinto necessidade de estar um pouco em silêncio comigo...pedir nessa hora a Deus, que abencoe o liquido vermelho e os incolores que me injectam, que passe pelas células boas sem as destruir, e que elemine as más.É a minha oração, sempre a pedir protecção à nossa Senhora de Fátima.De seguida, a senhora contou-me que a doença apareceu-lhe, fez uma intervenção cirurgica, tiraram-lhe a mama e alguns gânglios debaixo do braço. E tinha um grande número de gânglios com doença. Nunca baixou os braços e almeja ficar sã...não se revoltou, nem sequer se questionou porque lhe tinha aparecido, simplesmente aceitou... tal como tem aceite tudo o que de bom a vida lhe tem dado.O marido tinho curado um cancro raro num olho...deixou de ver, mas foi lhe feito um transplante e hoje em dia faz a vida normal. E com ela vai ser igual...vai vencer esta maldita doença.
Sinto-me cada vez mais pequena, ao conhecer estas pessoas, que tratam todos estes afazeres por tu, tornam todas estas anormalidades normais. Não sei o que as move...só sei que há-de chegar um dia, que eu quero ter este desapego por tudo isto, conseguir retirar só os ensinamentos desta azáfama e apoiar aqueles que passem por aquilo que estou a passar. Temos que adquirir um grau de confiança enorme na medicina, nos outros e em nós proprios.

10 comentários:

Anônimo disse...

Olá Isa!

Gosto da maneira como descreves a realidade das coisas.Simples e directa.
Também comecei a quimioterapia em Setembro de 2006.
Despachei-me mais depressa porque só fiz 4 ciclos, mas que coincidência, também não gostei do cheiro da sala, ainda hoje só de me lembrar dá-me logo um enjoos. De vez em quando, ainda sinto o cheiro na minha casa de banho.
Enfim tudo passa, tudo se aguenta!!! Não temos escolha não é?
Também estás a fazer exames? Está tudo bem? Desejo que sim.
Eu também faço amanhã a mamog.e eco.
Tudo de bom para ti!!!
Beijinho
Alda

Anônimo disse...

olá isa...ao ler o teu testemunho, relembrei da minha quimio...chorei no dia antes, qd fui fazer ia calma e serena...afinal, sabemos hoje...que a primeira é q menos custa...apesar de qd vamos para a segunda irmos mais leves, que já nos caiu o cabelinho...enfim, já passou e que venham só coisas boas.
beijos
isa
isabelguerreiro.blogs.sapo.pt

Anônimo disse...

Ola isa, fiz a eco abdominal e mamografia e está tudo bem. Ainda bem que está tudo bem contigo tambem. Beijinhos ao menino.

Quando for ao Garcia da Orta, digo-te com antecedencia, pode ser que nos encontremos. Tambem queria ir ao encontro que falam podes informar-me amiga?

Gosto muito de te ler, não sei explicar mas faz-me bem ler o que tambem eu senti.

Beijinho a anixinha e que a força de um beijo faça milagres lindinha.

Graça.

Anônimo disse...

Bom dia a todos, com especial atenção para a Alda, que é uma amiga do coração, e faz disso, segundo me apercebo, uma missão.Não te esqueças de nos vires contar, que está tudo bem nos teus exames, porque vai estar decerto.

Isa, ja sei que está um calor infernal em Beja...as férias acabaram, espero que agora seja mais facil para um café virtual.

Graça, fico tão feliz por tudo estar bem...e vai continuar, só pensamento positivo, tá?... e um sorriso tamanho do mundo.

Olá Otília,
continue a informar-nos sobre os passos do seu, ou melhor... do nosso " ViverdeAmar". Espero bem que quem o leia, arranje dentro de si próprio, a mesma força que a Otilia teve.
Fique por aqui... é importante a sua mensagem...beijo azul (gostei!), com muita luz...
Isa.

laura disse...

......
Isa linda!
Ao ler os relatos passados, imagino como devem ser repousantes, para ti estes momentos. Estás a fazer como um balanço. E será que agora, já tudo passou, não pensas: "como eu sofri... como eu tive tantos medos, tantas dúvidas, tantos "olhares" de pena por mim, como eu tive medo de não poder cumprir os deveres de mãe, esposa...
Este reler é bom para ti, enche-te, dá-te força e não só a ti mas ás boas mulheres que neste momento, estão a ler-te e a ter as mesmas angústias, os mesmos nojos as mesmas incertezas.. algumas delas com o teu exemplo vão acalmar.... Lembras-te da tal senhora com cancro no ovário que te mostrou como nem sempre era tão mau como se pintava?... e a outra sem mama sem cabelo e que continuava estoicamente á espera de superar como o marido tinha superado o cancro do olho?
Isa, agora foi , ou é, a tua vez de encaminhar outras para o caminho da esperança.... Deus fecha uma porta mas abre uma janela....

Fica com a minha admiração por teres conseguido e ajuda outros.
Beija-te a laura

Anônimo disse...

Isa,

Obrigado, por me considerares amiga do coração! E do peito (digo eu).
As palavras ( mágicas )que mais desejamos ouvir quando fazemos exames é:
Está tudo bem...................
Sim! Comigo está tudo bem, agora só faltam as análises, e acredito que vão estar bem! Eu vou dando notícias.
É tenho esta missão!!! E quase todos os dias sei de alguém, conhecido ou desconhecido, que está a passar pelo mesmo, ou bem pior.
Beijinhos
Alda

Anixinh@ disse...

Ola Isa ,
Descreves mto bem a maneira como tds nos sentimos ao saber que temos cancro , uns encaram de frente a doença outros desistem ....
Mas sabes eu acredito que a maior parte das pessoas que tem cancro nasce nelas uma força enorme de vencer , agarram se a vida e lutam , tds nós mesmo sem saber temos essa força , por vezes só do facto de olharmos a nossa volta e vermos as pessoas que mais amamos , elas são a iniciativa para que nunca desistemos , elas são a nossa luz , eu penso assim .
Amiga , obg por me visitares no meu cantinho , e desculpa eu estar um pouco mais ausente , mas tenho tido imenso trabalho , mas acredita que estou com tds vós sempre em meu coração e pensamento , desejando que td esteja bem com tds.
DESCULPA ESTE DISCURSO TODO MAS EU QUANDO COMEÇO A ESCREVER NAO PARO LOOOLLLL.

Graça ogb pelo bjinho , sabe tão bem os miminhos , e que td esteja bem contigo ,um gdr bjinho pra ti tbem .

Bom vou me embora , okey Isa , continua amiga , és uma grande lutadora , e tal como a Laura diz , as tuas palavras ajudam mtas pessoas ,...
Bjinho cheinho de carinho pra ti , e outro pro miguelito .
Anixinha

HelenaB disse...

Olà sou a Helena.Gostei de ler estes comentarios sobre tratamento do cancro...quimioterapia!
Estou neste mmt a fazer quimioterapia a um crancro que me apareceu nos,intestinos.
Fui operada e,espero que corra tudo bem pois,estou longe de minha familia a enfrentar tudo sozinha...ajudem me,tenho medo!

isa disse...

Ola haline. Ainda bem que me descobriste por aqui. Não estamos sós, temos por aqui muitas pessoas a passar pelo mesmo, e a sairem vitoriosas. É sempre dificil um diagnostico destes, sem duvida. Mas existem tratamentos inovadores, que ja nos dão uma grande percentagem de exitos.

Nao estas sozinha, fica por aqui, vais descobrir muitas pessoas bonitas que lutam como tu. E isso alegra-nos a alma, ter outros a superar a doença.

O meu email é isabelmariacorreiat@gmail.com
Escreve-me, da-me o teu email... vamos ficar juntas... nao te isoles.
Um beijo grande
Isa-retratoiluminado

Daiane Flores disse...

olá preciso conversar com alguém que já fez quimioterapia ambulatorial, pois estou desenvolvendo o projeto de uma cadeira para quimioterapia e tenho que saber a opinião de quem já usou!Se conhecer alguém passe meu e-mail, por favor, daidads@gmail.com
Obrigada!